segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Cap. II
Fiquei esperando por quase duas horas até ser chamado. Falaram que ele estava querendo me ver. Fui até a primeira baia, elas eram dividas por um tecido grosso, acho que estopa. Tinha duas fileiras com seis baias, uma de frente para a outra. Ele estava tomando soro e parecia um pouco mais tranqüilo.
- E aí gay?! (falei)
- Eles não sabem o que é. Acho que vou ter que ficar aqui em repouso, até descobrirem. Eu pensei que ia morrer de dor.
- Mas e agora? Ta melhor?
- Ta dolorido. de vez em quando dá umas pontadas brabas.
Ficamos conversando bastante tempo. Eu morria de medo que chegasse algum paciente estrupiado e se instalasse numa das baias (sou bem medroso pra sangue). Depois de mais algumas horas, veio uma enfermeira e disse que ele teria que ficar. Decidi ir embora. De nada adiantaria ficar esperando. Meu corpo pediu arrego e me despedi. Minhas roupas fediam cigarros e suor. Saí de lá umas oito. Cheguei em casa quase dez. Dormi até duas horas da tarde e liguei para a Deca. Combinamos de nos encontrar no ‘pedaço da pizza’ da augusta.
Em menos de 24 horas estava eu de volta a velha augusta. Chegando lá, as duas já me esperavam. Tivemos chance de nos conhecer melhor. O papo delas era bem democrático, aquilo me encantou. Comemos e descemos para o OUTS, depois eu entraria sozinho, pois Simone e Deca fariam a prova do estadão no outro dia, por isto teriam que dormir cedo (estes eram os planos). Não foi o que aconteceu, tudo porque encontramos com minha ex namorada no bar. Fiquei constrangido, a Simone tentava me consolar, enquanto a Deca tentava me tirar daquela idéia. Pra piorar, Michelle (ex), estava com outro cara. Para meu alívio os dois se foram.
A cerveja estava horrível e quente. Era meia noite e hipoteticamente elas teriam que ir embora. Uma me pegou de um lado e a outra me seguia do outro:
- Vamos procurar um bar que a cerveja não esteja quente. Falou Deca.
- Ta, mais um bar e a gente vai embora. Falou Simone.
- Sem problemas, depois entro no OUtS.
- Não. Você não vai pro OUTS. Vai ficar com a gente. Deca.
- Sim. Mas amanhã a gente vai ta fudida pra acordar. Simone.
- Porra. Nem quero atrapalhar vocês. To com grana no bolso. Qualquer coisa ‘caio’ ali na FUN House. A Michelle não vai estar lá. Quer dizer, não sei. Eu.
- Relaxa e vamos beber. Deca.
- Quer saber. Vamos beber. Simone.
O consenso comum foi o de procurar outro boteco. Mesmo que ‘pé sujo’. Contanto que tivesse cevada gelada.
Primeira parada: no bar da frente não tinha nada diferente. As coisas estavam iguais. E para piorar eles só serviam em copos plásticos.
- Falhamos neste. Vamos em frente. Disse Simone.
E assim fomos de um a um. As três da manhã encontramos o bar ideal. Ficava ao lado de um puteiro de ‘segunda’. As garotas que trabalhavam no bordel caçavam clientes por ali. Faziam um show. Transmitiam ânimo a todos os freqüentadores. Sentamos próximo de uma escada que subia para os banheiros. Ficamos a noite inteira tirando cascata do lugar. Assuntos incansáveis. Naquela época a região ainda se recuperava de constantes quedas. Hoje o que vemos é a rua de maior movimento da noite paulistana.
O dia anunciava suas auroras, minha barriga anunciava gorfo. Aguentaria se não bebesse mais nada. De susto Simone perguntou:

- Que horas são?
- Caralho!!! São 5h10. O metrô já abriu, dá pra ir embora sussa. Eu respondi.
- Amanhã tamo lascada hein? Deca percebendo a merda feita.
- Pois é né?! Agora não adianta mais. Simone
- Onde vocês tão mesmo? Eu.
- Na augusta mesmo. No apartamento de uma amiga. Deca.
- Eu acompanho vocês até lá. Eu.
- Vamos sim. Deca.
Me despedi na porta e peguei os contatos de e-mail.
No domingo recebo uma ligação:
- O que você ta fazendo?
- Nada, por quê?
- Vem pra cá. Vamos dar uma volta. Eu e Simone perdemos o horário da prova. Ela ta dormindo e chorando. Não quero ficar em casa.
- Bora! Me encontra no metrô brigadeiro às 13h00.
Corpo cansado. Mente cansada. Mas disposição para uma possível trepada. O que não aconteceu. Infelizmente estávamos sem opções, minha casa era impossível (meu irmão é puritanista e dividia a casa com ele). Motel, sem chances (minha grana tinha acabado), a casa que ela estava não dava. Eu fiquei na vontade, não sei se ela também. Acho que sim.

O fim desta história foi a amizade que fiz com Simone. Depois de quatro meses (ou mais, não lembro)ela retornou para São Paulo, trabalharia na Folha. Passamos dois anos e meio convivendo. Casou com o Vitor, também um grande amigo e quarto elemento que não apareceu. o conheci muito tempo depois em uma festa. Eles partiram para Portugal dia doze de outubro.
Roni passou uma semana no hospital, parece que teve estomatite aguda. Depois disso pegou asco de tequila. Hoje está em Londres buscando o amor perfeito com sua americana.
Deca atualmente mora na Itália e está casada, perdemos o contato.
Eu estou aqui, nem sei se vou pra algum destes lugares, mas sei que se eu for, vou ter pessoas queridas pra ver.

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Eu lembro quando minha professora de Inglês chegava com um folheto do fisk onde tinha a letra de um monte de músicas. Toda aula era a mesma coisa. O folheto dificilmente mudava. Uma das canções era esta. A gente tinha que cantar em voz alta enquanto ela ficava coçando.



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