terça-feira, 15 de dezembro de 2009

O buracão

Acessório para as segundas feiras

---------------------------------------------------------------------------


No que antes era um buraco de longa quilometragem que percorria quase toda a extensão das costas de São Mateus, famoso por seu nome "Buracão". Hoje estão construindo um parque de proporções grandiosas.
Desde que nasci estou acostumado a ver obras de proporções faraônicas. Pra quem vive no Brasil em desenvolvimento sabe do que falo. Prefeitos ambiciosos querendo auto-promoção.
Elas não são de todo ruim, esta, por exemplo: garantirá a diversão de crianças que antes só conviviam em vielas estreitas de violência contínua. Crianças que – como eu já fui – passaram por diversas experiências nem sonhada por um diplomata. Admiro os casos americanos, onde republicanos e democratas sempre fizeram revoluções. Pessoas simples, que conquistaram o mundo (é claro, hoje a figura mudou, não é mais o povo americano que é o queridinho do mundo).
Há muito tempo sonho com revoluções pacíficas, onde o poder do verbo é muito mais importante do que qualquer ato de falsa generosidade. Em uma ocasião discuti com um advogado formado. Isto seria comum se eu não estivesse com sete anos de idade. Claro que tomei bronca de todo mundo – com razão – enquanto aquele homem que nem lembro se estava certo ou errado, me olhava com desaprovação. Disto eu me lembro bem.
Aprendi com a professora Silsa boa parte da minha base estudantil. Ela parecia ter uma filosofia linda sobre a vida. Alertava-nos contra as manobras do estado. Isto em 1989, enquanto nos preparávamos para a democracia que veio com outra ditadura: “a do desenvolvimento a qualquer custo”. Estes custos se voltaram contra nós. Até hoje pagamos caro o capricho de nossos “líderes” que a mim nunca inspiraram em nada. Nem mesmo Lula com seu discurso fervoroso me agradava, muito menos o do Mauricinho do Fernando Collor de Mello. Serei sincero ao dizer que não deixei de me emocionar por assistir a posse de Lula. Mesmo sabendo que tudo ali não passava de um filme encenado por todas as camadas sociais, cada uma com sua opinião estarrecedoramente paradoxal.
Retornando ao parque, cujo nome ainda não tem e provavelmente será de algum parente do Kassab. Neste local, havia antigamente o que chamávamos de “desova de corpos”. Vários foram os assassinados que tocaram o solo de um lugar meio que maldito. Percorrer em suas entranhas a noite era o mesmo que pedir pra sofrer algum tipo de atentado.
Junto com um mar de gente serei enormemente privilegiado com estas obras que olho com brilho. Pra mim, estão construindo um santuário, em memória de tanto sofrimento visto no local, que prejudicou tantos seres humanos.
Ouço por vezes: “antigamente as coisas não eram assim”. Realmente não eram. Antigamente teriam corpos espalhados no bairro (São Mateus). O ensino poderia ser mais qualificado, mas ninguém tinha acesso. Tanto é que, minha mãe é formada no segundo grau e meu pai parou na quarta série. Antigamente as coisas eram tão melhores que eles (meus pais) dormiram na fila para conseguirem vaga pra mim em uma escola podre.
Não posso, nem devo fazer críticas sobre o presente tentando compará-lo ao passado. Pelo menos pra mim, as coisas são muito melhores. Temos conduções pra todos os lados da cidade, temos mais vagas em escolas e hospitais (óbvio que ainda falta), estamos mais ricos, isto ninguém pode negar.
Agora, o que anseio, independe do que estão construindo. Na realidade depende apenas de quem usará estes benefícios. Não adianta construir parques para vândalos e ignorantes destruírem, depois até isto colocarão a culpa no estado, sendo que, quem destruiu um patrimônio público foram eles. Tive o mesmo acesso a informação que outros tantos tiveram, ninguém pode usar o argumento “periferia” como pano de fundo da própria burrice. Espero que os moradores tenham consciência e preservem este novo patrimônio público.

-----------------------------------------------------------------------------





Assisti um show deles no Stúdio SP. Boa performance. Eles têm muito futuro, pois são originais. A maior parte do repertório é inglês, não tenho nada contra, mas prefiro bandas brasileiras cantando em português. A letra desta canção é interessante, tem um tom verdadeiro.

6 comentários:

Andrea Mari disse...

Parabéns pelo blog como um todo e por este texto!
enfim o buracao!!!
discutir com advogado aos 7 anos, me fez lembrar quando eu discuti com padre aos 10...hahahah!
muito bom!
bjosss

Palatus disse...

Muito bom, gosto de suas ideias. Ah, demorei por conta de uma tese que preciso escrever, me enlouquece, mas quando posso, venho aos blogs bãosss, como esse. um xero

Unknown disse...

curti este show também...

marcelo grejio cajui disse...

Oi, Andrea!
obrigado pela visita.
discutir com padre é mais grave, hein? rs. quase um 'sacrilégio'.

apareça mais vezes.
beijos

marcelo grejio cajui disse...

Grande Nilson. porra bicho, percebi que sumiu, acho que até comentei. mas que bom que foi por uma ótima causa.
força aí, mestrado deve ser punk.
abraço

marcelo grejio cajui disse...

pois é, Susan. curti bastante. sua companhia foi ainda melhor.

Beijoss