sexta-feira, 1 de maio de 2009

A lenda de Susel

Os descendentes

O céu estava escuro

As ruas imundas,

Susel foi concebido

Saindo de uma prostituta viciada.

Em seu trabalho de parto (aquela mulher)

foi ajudada por um mendigo

que passava com uma garrafa de pinga

e viu num beco coberto de lixo

uma mulher gritando de dor.

Quando a criatura saiu

O homem sujo ajoelhou e chorou

Limpando a coriza em seus panos imundos

Deixou ressonar claramente a palavra “anjo”

A mãe que antes pensara em aborto

Fora avisada num sonho sobre um anjo que viria

Desistiu,

mesmo contrariada.

Naquele momento ela enlouqueceu

Não sabia o que fazer

A imagem

Era pesada demais pra se submeter.

Ainda com sangue entre as pernas

Olhou admirada

E abraçou o mendigo

Pois ambos tinham o nariz sujo.

A personificação do sonho foi glorificada

Riram juntos e acreditaram no futuro

Olhando os olhos de Susel

O mundo não parecia ser mais apenas lixo

E aquele canto obscuro simplesmente foi tomado de luz

Estranhamente mais pessoas que viram aquela algazarra

Pararam e olharam extasiados

“um recém nascido”

diziam

Em pouco tempo até o amanhecer

Até a imprensa resolveu aparecer

“O milagre do beco”

foi chamado o caso.

Mirian (a mãe de Susel) ficou famosa

Virou celebridade durante um mês

E esquecida após todo o glamour bombástico.

Já Susel foi submetido a diversos exames

Foi constatado que aquela criança frágil

Era mais forte que toda a população Margeleus

O motivo:

Susel não havia nascido contaminado pelo vírus Influenza.

Desde que se haviam relatos

Todos os seres de Margeleus nasceram com ele

No mesmo instante que houve esta descoberta

Toda cidade se movimentou

Tornou o pequeno

um mártir.

A mãe foi afastada de seu filho por votação popular

Gente de todos os lados vinham ver o milagre,

e pedir benção.

O problema do vírus Influenza gerava mercados

Gerava receita entre todas as indústrias

De alimentação a higiene

Todos se movimentaram quando souberam

Inclusive o governo que tornou o bebe uma propriedade pública

Foi estudado e pesquisado

Realmente aquele Margeleênce estava imune

foi constatado cientificamente.

O governo não dizia que tipo de experimentos fazia

Obvio era que Susel fora submetido ao próprio vírus

Que nem arranhão em sua saúde causava.

Romeiros,

Liberalistas

Humanistas tentavam libertar a criança

Por conta disto,

acharam-lhe uma família

Seus pais também foram escolhidos em votação popular

Viviam na metrópole e passaram por um reality show da tevê estatal

Junto com mais três casais.

Enfim Susel estava parcialmente livre da ciência

De dois em dois meses batia cartão no IPCM

(Instituto de Pesquisas Científicas de Margeleus)

Já no seus primeiros dois meses livre, demonstrou evolução incrível

Cresceu seis centímetros a mais do que a média de sua idade

A imprensa construiu bases fixas nos arredores de seu domicílio

Havia o canal Susel, com direitos exclusivos

Exibia relatórios semanais,

da saúde

ao primeiro passo.

Os pais recebiam o patrocínio de cinco marcas:

Um de fraudas

(patrocínio quebrado quando Susel completou quatro meses e parou de usar fraudas)

Um de papinha infantil

Um de investimentos bancários

Uma marca de roupas

E o último uma marca de refrigerantes

(pois é, acredite se puder).

Aos cinco meses de idade começou a falar.

Após o quinto mês

Foi realizada a visita de rotina ao IPCM

Nada de Influenza,

Nada de nada

Tudo de novo.

Susel realmente era excepcional.

As indústrias se prepararam para o contra-ataque

Contra a mais consolidada notícia.

O pânico causou quedas na bolsa de valores

A histeria tomou conta do povo

A desordem foi instituída

A esperança causou revoluções em todos os continentes

Por mais que Margeleus fosse autônoma

As notícias corriam para quatro ventos.

O Influenza tomava conta de mais de oitenta por cento da população mundial

Vieram diversos forasteiros

O estado começou a arrecadar uma renda superior a qualquer outro

O turismo,

A ciência,

A arqueologia,

A sociologia,

A matemática,

A biologia,

A filosofia ,

A Lógica

A Física

A História

O português

O inglês

O espanhol

Ninguém conseguia explicar

E todos conseguiam arrecadar

Cada um com sua teoria

Cada qual com seus ganhos disfarçados em pesquisas

Susel cresceu

A sociedade ainda vivia a pesquisar suas evoluções

Sem explicações lógicas

Começou a se basear na teologia

Só os Deuses responderiam

Daí surgiram as mais diversas religiões:

A Protecionista

A Evolucionista

A Progressista

A Revolucionária

A Filosófica

E ainda assim,

Ninguém sabia explicar.

O Influenza continuava a se procriar

Aos treze anos Susel começou a discernir

Sua revolta foi inevitável

E começou a ver,

Viu a cede

Viu a fome

Viu o ódio

Viu a morte

Viu a ambição

Viu aquele homem que estava contaminado pelo vírus

Viu tudo o que tinha que ver

E mesmo assim

Continuou a ver

Não entendia o porque

O porquê do porque de não ter sido contaminado

O porquê do porque de ter nascido

O porquê do porque de tanta desigualdade

“Se todos estavam contaminados

Porque tanta diferença?” ele pensava.

Impossível tantos porquês

O que mais afligia a mente de Susel

Era a diferença entre ele e os outros

não era simples ser diferente do resto do mundo

(aos treze anos, o garoto via noventa e sete por cento do mundo contaminado).

Aos treze anos

Aquele pré-adolescente resolveu procurar os outros três por cento que restavam

Abandonou temporariamente Margeleus na busca

Fugiu na noite de décimo quarto aniversário, enquanto todos dormiam

O estado se revoltou com sua abdicação de luxos e prometeu vingança

A igreja o acusou,

O povo não entendeu e foi junto.

Ele,

nem ligou

Caminhou pelo vale da morte

- Lugar proibido -

Caminhou pelo vale do cilício

Correu por caminhos trilhados para purificação

Olhou o deserto

Olhou as cidades,

Olhou os campos

Olhou os montes

Nada respondeu suas objeções

Insatisfeito resolveu voltar

Mesmo sem achar

O que achou que não achou

Quando pisou novamente em Margeleus

O estado, a igreja e o povo tinham esquecido dele

(já havia passado dez anos).

Ele via nas ruas pessoas doentes e perdidas

A sociedade estava totalmente rendida ao vírus.

Resolveu procurar um trabalho

Foi contratado em sua primeira tentativa

Tanto o salário quanto o cargo eram altos.

Mesmo sem nenhum tipo de experiência foi contratado

O dono gostou de sua postura.

Com todos os benefícios ele se esquecera momentaneamente de sua busca

Ficou cinco anos vivendo relativamente bem

E na mais nobre região.

Possuiu diversas mulheres que o procuravam constantemente

(Tinha uma legião de seguidores

que não percebiam seu estado de saúde)

Todos contaminados

Mesmo assim, conseguiu o que queria.

Aos vinte nove anos viu seu rosto de pequeno ser revelado na tevê

O nome do programa: “Por onde andarás Susel?”

(seu nome mudou junto com sua identidade)

Aquilo mexeu com seus temperamentos.

Na época tinha uma noiva

Seu nome: Madalena

E o que ele não sabia:

Madalena estava grávida

Resolveu mudar

lutar

e não se esquivar

só conseguia pensar nos oprimidos que via

Aqueles famigerados que tinha pena.

Sabia que a desinformação era a falta de acesso a informação

Saiu do emprego

Foi morar na periferia

Levou junto sua esposa (se casaram neste meio tempo)

Ao pronunciar seu nome entre as massas

Elas logo foram suas seguidoras e protetoras

O governo logo soube da reaparição de Susel

Enviou espiões

Enviou ladrões

Enviou assassinos

Mas nada tirava Susel de seu objetivo

Dentro de seus seguidores estavam os mais consagrados médicos

Até os mais reles moradores de rua.

Seu exército reunia mais de duzentos mil homens

(a população de Margeleus era de um milhão de habitantes)

A cidade Suselgrado foi instituída,

mesmo nunca tendo sida reconhecida.

Todas as decisões eram comunais,

Tudo passava pelo conselho que votava os votos da população

(neste momento metade de Margeleus se refugiava em Suselgrado)

As coisas funcionaram passivamente e harmoniosamente

Até o surgimento de Dajus

Dajus era o principal conselheiro

Susel confiava em sua conduta.

Dajus foi cobiçado pela ambição

Pobre de alma e simples de coração

Foi corrompido pelo governo de Margeleus

Que ofereceu simplesmente o mais alto posto de suas jurisdições:

O de presidente.

Em troca

A cabeça de Susel numa bandeja

Toda traição

Todo ato de contradição

Tudo

Covardemente,

Susel foi considerado o inimigo do estado,

mesmo tendo dado esperança.

Após dois anos nasceu Faristeu, seu primogênito,

O “príncipe” como fora chamado

Foram realizados exames virais e toxicológicos na criança

Nada constou

Mais um cidadão sem nascer com o Influenza

Algo que deixou dúvida:

Pelo convívio todos que estariam ao lado de Susel seriam curados?

Os relatos se tornaram claros

Os pais adotivos já não possuíam mais o vírus

Assim como os doze conselheiros que fundaram Suselgrado

(incluindo Dajus)

O povo de Margeleus começou a ser barrado nos portões da nova cidade

A superpopulação impedia a entrada de novos habitantes

Foi motivo de ira e inconformismo

Susel ainda tentava visitar duas vezes por semana o povoado da outra cidade

Porém fora impedido,

compelido com ameaças de morte.

Desistiu e se refugiou em sua cabana

Mais uma vez decepcionado

Não entendia porque não podia.

Durante um mês fez greve de fome e não recebeu nem mesmo sua esposa.

Dajus se aproveitou da situação e concubinou a queda de Susel.

Após dois anos de harmonia

O povo começava a sentir os primeiros efeitos do embargo econômico a que foram submetidos

Afinal,

Suselgrado não tinha sido reconhecida como estado absoluto

Todo resto do mundo bloqueava a entrada de todo tipo de subsidio

Claramente o povo se voltou contra Susel e seus conselhos públicos

Aproveitando o momento favorável Dajus

tramou e conseguiu que soldados de Margeleus prendessem Susel próximo da fronteira.

Quando fazia uma visita a um povoado que sofria de Influenza profunda

(detalhe: o povoado foi curado)

A esta altura toda a população de Suselgrado estava curada do principal mau,

O Influenza

Mas ainda assim acusava Susel de má gestão e corrupção.

Quando foi preso,

não foi acudido por nenhum cidadão comum

Apenas o bandido acusado foi Dajus,

Se jogou do edifício que constituía a cede da Comuna

(edifício de cento e cinqüenta andares)

Com a detenção de Susel,

Ironicamente a população de Suselgrado havia adquirido novamente o vírus

Mais ódio surgiu

Pois todos pensaram que era Susel que tirara a imunidade de propósito

No julgamento

A Margeleus ficou fervorosa de gente

Que saiam de todas as partes do mundo

Todos acusavam Susel de traição

Seria massacrante a decisão

Microfones

Câmeras

E gente

- Muita gente -

Se posicionava de frente ao fórum

Susel foi cuspido e sujo com frutas podres

Agredido pela guarda real e insultado pelo seu povo, que tanto amava.

O julgamento demorou mais de três dias entre acusações

Ninguém se pronunciou para fazer a defesa

E mais uma vez

Num reality show

Susel foi condenado a esquartejamento em praça pública,

Suas partes seriam espalhadas em todas as entradas da cidade

Seu sangue seria enviado para todos os cantos do mundo

Afim de estudos

Seu cérebro ficaria guardado e congelado

Quando o juiz pediu que Susel fizesse sua defesa

Aquele acuado homem respondeu:

“O mundo é que muda, as pessoas nunca mudam”

Ninguém entendeu o objetivo,

E também ninguém ouviu nenhuma outra palavra da boca de Susel.

Sua família foi perseguida mas conseguiu se refugiar

Quem conta esta história é o tataraneto de Susel

Nenhum

Homem ou mulher de nossa família foi contaminado pelo vírus

- ainda digo que quem convive conosco se cura -

Que já atinge noventa e nove por cento da população.

Nos escondemos de tempos em tempos

E de tempos em tempos reaparecemos

Todos tentam entender a causa de sermos imunes

Mas o segredo é de família

Esta guardado a sete chaves dentro de nossas mentes

Com relação ao meu tataravô:

Sofreu todo tipo de dor

Foi tese em universidade

É estudado até hoje

Seu sangue já não circula mais,

Foi esgotado.

Hoje ele é uma lenda

Mas sei bem que não é.

Ninguém nunca conseguiu se livrar do vírus Influenza

Somente nós que nos revelamos durante os séculos.

Os descendentes de Susel.



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Muse é uma banda que nunca fui muito fã, porém este álbum é bem legal (2006), as faixas que mais me interessei:
2 - Starlight (fantástica)
11 - Knights of Cydonia (um concerto).
3 - Supermassive Black Hole (tocou bastante nas rádios)







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Entre Razões e Emoções...
Fabiola Medeiros

conheci a Fabiola por acaso num e-mail que ambos não sabemos como veio parar em minhas mãos.
Ela tah expondo seus trabalhos no Espaço Cultural Pier Luigi Castelfranchi que fica em Ribeirão Preto, até o dia 24 de junho.

Mais trabalhos:
http://www.flickr.com/photos/fabiolarebello

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Se liga nesta foto que a cia publicou da posse do obama (a foto tem 1474 mega pixels!!!)
dá zoon onde você quiser que vai ficar de queixo caido.

http://gigapan.org/viewGigapanFullscreen.php?auth=033ef14483ee899496648c2b4b06233c

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