quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Começa hoje nos desejos mortos, uma novela que retratara cada um dos integrantes que fizeram parte dos desejos vivos do criador deste blog. Algumas frases se repetirão, como também algumas descrições. Que fique bem claro que todas elas cabem da mesma forma dentro do coração. Nesta história real, alguns personagens se misturaram de forma plena, outros se separaram totalmente. Mas é a história da vida. Não se trata de um diário (embora seja esta a definição no dicionário para a palavra ‘Blog’).
A primeira visualização me disse para colocar um amor. achei a idéia interessante. Mas analisando bem, é mais válido começarmos de onde não ouve um fim. Por isto preferi pensar para o primeiro tema um trio de amigos. Não tento fazer uma biografia. Penso que a vida é uma ficção. Para não sobrecarregar o blog com textos longos. Intercalarei com poesias curtas e pensamentos breves.
Cap. I
{“Olhando em volta eu estava entediado por dançar mais uma noite no mesmo lugar e não ter nenhuma garota para no mínimo flertar. A noite anunciava seu fim...”}
Eu pensava um pouco diferente há três anos e meio atrás. Os fatos são recentes; pra mim parece que foi há dois séculos. Gostava mais do que agora de sentir a ostentação proporcionada pelas infinitas noites de balada. Andava pelos melhores lugares da cidade. Gastando dinheiro aqui e ali. Não guardando um centavo do que a profissão me fornecia através de um extrato bancário razoável. Lembro que ainda trabalhava na rádio Record como executivo de contas. Na filial da barra funda eu falava ao telefone com Roni.
- Meu, vamos pra outro lugar hoje. Sei lá, vamos pro Matrix, pro OUTS, pra Junkie Joint. Mas a DJ Club ta repetindo muito as músicas.
- Ah, bicho. é que lá me sinto em casa. Parece que conheço todo mundo (conhecíamos muita gente de lá). Vamos passar na porta do OUTS, a gente para na padaria lá do lado e vê a fila. Se tiver umas menininhas, ficamos por lá. O que acha? (esta foi a pergunta-resposta de Roni).
- No final, eu to ligado que vamos cair na DJ de novo. Mas beleza, vamos aí. Mas você não vai me dar furo né, veado? (eu disse)
- Não. (dando risada) – Pode ficar sussa.
- Certo. Então que horas? Umas onze?
- Onze ta bom. Acho que vou pegar o carro do meu irmão. Tomara que ele empreste.
- Mas mesmo que ele não empreste. Vamos mesmo assim. Foda-se.
- Vamos sim. Onze horas na padaria do OUTS?
- Ta bom. Até. (desliguei o telefone)
Gostava muito do público que freqüentava aquela padaria. Totalmente ecléticos. Víamos de tudo. Da patricinha perdida, até o plebeu folgado. Tomamos umas geladas e adivinhem pra onde fomos? (pra quem respondeu DJ club acertou). Subimos a augusta com relógio marcando meia noite e meia. Era sexta feira, e já tinha bebido na quinta no maximedia (feira anual de publicidade). De nada me importava, eu queria mais festa. Um engov que resolvesse o problema.
Viramos na esquina com o banco safra. Pegamos a Paulista e viramos na Pamplona do outro lado. Descemos três alamedas. De cima vimos a fila que se formava na porta. Gente exótica, misturada. Algo que só São Paulo pode proporcionar. Longe dos pagodeiros que invadiam as rádios e dos fakes forrozeiros que inventaram um ritmo dançante entre os jovens: o forró universitário. Um oásis no meio do deserto de mesmices. Claro que nesta época haviam outras baladas alternativas, mas esta era a melhor de todas. Hoje não mais, a fama se espalhou e estragou o lugar.
Estava a pouco tempo solteiro de um namoro que durou quase oito anos. Um amor inesquecível que acabou pelas brigas contínuas. Ela adorava a Trash’80, eu odiava. Eu adorava o Matrix e ela odiava.
{“...Fazia poucas semanas de solteirice e lá estava eu dançando na mesma pista de sempre.”}
Numa balada preferia as mulheres de iniciativa. Deixava todas as evidências no ar. Puxava assunto. Durante esta conversa (que mal se ouvia) tínhamos que valer muito a pena um para o outro. Nunca gostei de dar beijinhos bestas e dizer adeus. Nesta noite, eu prospectava algumas que poderiam dar um bom caldo, mas desanimava quando observava algo que eu não gostava no comportamento. Minha vontade era de ir embora, o clube estava do jeito que eu imaginava: repetitivo.
Tentei localizar o Roni diante daquela multidão de cabeças e corpos se esfregando um no outro. A fumaça ardia os olhos e a luz estava freneticamente embriagada pelo álcool. Naquela noite tomamos um engradado de latinhas e duas tequilas cada um (sem contar com as que bebemos do lado de fora). Não conseguia ver onde estava aquele filho da mãe, devia ser quase quatro horas da madrugada.
Quando meus olhos vagavam, fui surpreendido por uma bela menina me pedindo fogo. Ela parecia estar sozinha, sorri e acendi o cigarro dela. Ficamos naquele papo de pista:
- Hoje esta balada ta um lixo. (eu disse)
- Eu odeio anos 80. (ela)
- Eu até gosto. Mas semana passada ele fez as mesmas sequências.
Ela tinha um sotaque diferente, logo notei.
- Você é daqui de SP?
- Não. Sou de Joinville.
- Porra. Que bacana. E ta fazendo o que aqui?
- Sou jornalista. Vou fazer a prova de trainee do estadão.
- Prova? Tipo amanhã?
- Não. Vai ser domingo.
E assim ficamos conversando durante mais uns dez minutos. Eu não conseguia falar sem olhar para a boca dela, ela também não disfarçava seu interesse. Sim, nos atracamos. Conheci neste instante a Deca. Trocamos altas idéias, ela me disse que estava com uma amiga também do sul, precisava encontrá-la para irem embora. Falei que também estava com um amigo e ele estava perdido no meio da muvuca.
Para entender o lugar: duas cortinas negras ficam entre o Hall e o lounge de entrada, do lado direito uma escada subia para outro ambiente. No fundo havia um bar colorido por neons e luzes. Por trás dele uma escada descia para a pista. A enorme escada penetrava cinco metros para dentro de um porão escuro. A cabine do DJ. ficava colada na parede. Um letreiro digital dispunha-se meio metro acima da cabeça dele e anunciava seu nome: DJ KID VINIL (dizem que ele não repete músicas quando discoteca. mas... aquelas que estavam tocando eu já havia escutado uma semana antes, não lembro se ele que havia discotecado também).
Eu estava me esfregando com Deca na pista. Resolvemos tentar encontrar a amiga dela que chamava Simone. A garota estava na porta do banheiro do segundo andar. A fila estava enorme e começamos a conversar desde então. A Deca ficou meio de canto, enquanto eu e Simone falávamos sem parar. Adorei as duas. Quando Simone saiu do banheiro fomos comer uma porção de batatas no balcão que ficava na parte de trás daquele piso. Marquei na minha comanda e pedi mais uma cerveja, elas pediram as delas. Quando a conversa estava esquentando, Roni aparece mais pálido do que um lençol branco. Segurava o estômago.
- Mano. Preciso ir pro hospital, acho que tomei alguma coisa que me fez mal.
Perguntei se ele não agüentava até irmos embora, nem demoraria, só findaria as batatas. Ele disse que não. Tive que me despedir das duas e partimos para o hospital (claro que peguei o telefone delas para nos encontrarmos no sábado). Nós não estávamos de carro; a logística em São Paulo é complicada.
Roni trabalhava na recepção do hospital Edmundo Vasconcelos (prox. do ibira) e decidiu que iria pra lá. Acho que na época deu uns vinte reais de taxi. Chegamos e todos pareciam conhecê-lo. Passaram com ele na frente de um paciente que esperava. Pediram que eu aguardasse. Durante a consulta do amigo, duas ambulâncias encostaram: uma com alguém em estado de coma e outra com um senhor de olhar distante.

Próxima postagem: continuação e conclusão da primeira história.


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Toda segunda útil às 19h30, acontece no auditório do MASP o encontro: Letras em Cena. São leituras feitas por atores e escritores consagrados ou iniciantes. A entrada é franca. Segunda vou ler um texto de minha autoria. Um dos organizadores pediu indicações de conhecidos que queiram participar.

http://www.masp.art.br/espetaculoseeventos/projetoletrasemcena.php

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Elvis Costello é uma das principais referências para o cenário Pub Rock. Alguns dizem que este estilo foi o precursor do punk rock britânico. A música "Oliver's Army", escolhida aqui, foi regravada por bandas como: Raimundos, Blur e Belle and Sebastian.





2 comentários:

Anônimo disse...

falaí mané. apareça na cena kra e outra eu n gosto de msn meu... hehehe

marcelo grejio cajui disse...

to reaparecendo brother.
acertando uns detalhes aqui e ali.

tbem não gosto, mas é útil pow.

abraço.